Adriana Guarda e Felipe Lima, do Jornal do Commercio
A mudança do mapa industrial de Pernambuco vai ganhar reforço com a implantação de uma montadora da Fiat no Complexo de Suape. Se os especialistas já calculavam que o PIB do Estado poderá triplicar, até 2020, com a maturação de empreendimentos como refinaria, polo petroquímico e estaleiro, o que esperar de uma economia que passará a contar com uma fábrica de automóveis? A instalação da Ford, no Polo de Camaçari, na Bahia, e a própria Fiat, no município mineiro de Betim, são dois exemplos do empurrão econômico gerado por empreendimentos estruturadores.
Em 2011, a montadora da Ford comemora 10 anos de operação no Complexo de Camaçari. Depois de vencer a disputa com Pernambuco e Rio Grande do Sul, a Bahia conseguiu sediar o empreendimento que, na época, somou um aporte inicial de R$ 800 milhões. Até 2015, a estimativa é que o volume de recursos aplicados pela companhia alcance R$ 4,5 bilhões, com a conclusão de um projeto de ampliação que está em curso.
http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2010/12/16/como_uma_montadora_muda_a_economia_de_um_estado_86540.php
O superintendente de indústria e mineração da Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, Paulo Guimarães, lembra que a instalação da montadora trouxe, junto com ela, outras 35 empresas da cadeia produtiva. Desse total de sistemistas, pelo menos 27 integram o chamado Complexo Ford, compartilhando o mesmo site industrial, que hoje ocupa uma área de 1,6 milhão de metros quadrados. “São indústrias de autopeças, montagem, pintura e tantas outras. Isso sem falar nas outras oito, que incluem fábricas de pneus”, destaca. O complexo gera nada menos que 8 mil empregos diretos, além de 80 mil indiretos.
A montadora da Ford tem capacidade para fabricar 250 mil veículos por ano e o novo investimento de R$ 1,5 bilhão na planta vai permitir elevar esse número para 300 mil. A empresa contribuiu para alavancar a participação do Polo de Camaçari no PIB da Bahia. Há 32 anos em operação - mesmo tempo de história do Porto de Suape - o complexo participa com 32% do PIB. O peso da Ford é tanto que, do total de 15 mil empregos gerados pelas 90 indústrias do polo, mais da metade está no site da montadora. A Ford e a Braskem respondem hoje por 70% do faturamento do Polo de Camaçari, que chega a US$ 15 bilhões por ano.
Para garantir todo esse impacto econômico, Guimarães lembra que o governo do Estado precisou desenhar um programa de incentivos fiscais, que complementaria os benefícios concedidos pelo governo federal por meio do regime automotivo para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “Indústrias do setor automotivo com investimento superior a R$ 800 milhões usufrui de isenção de ICMS por um período de 15 anos. Outras que se instalarem com investimento menor serão contempladas por um crédito que varia de 90% a 95%”, explica. A agência de fomento da Bahia, a Desenbahia, também faz a articulação com as instituições financeiras para facilitar e baratear os financiamentos bancários para as empresas. A companhia também precisou articular a qualificação da mão de obra, tendo o Senai como principal parceiro.
A unidade da Fiat em Pernambuco projeta investimento inicial de R$ 3 bilhões e vai gerar 5 mil empregos. O número é mais de três vezes superior aos postos de trabalho na operação da Refinaria Abreu e Lima e igual ao do Estaleiro Atlântico Sul.
O anúncio da montadora da Fiat parece não assustar a concorrente Ford, única instalada no Nordeste. O presidente do grupo, Marcos de Oliveira, afirma que dificilmente alguma montadora chegue com disposição para agregar valor à região como a Ford. “Tratamos todos como concorrência. Não importa de onde venham, se americanos, chineses, alemães, italianos ou coreanos. Para nós o projeto prioritário não é ganhar mais participação de mercado, e sim aumentar o volume de vendas. Para isso, vamos aplicar R$ 4,5 bilhões no País até 2015. Valor que será empregado em novos produtos e na ampliação de nossa capacidade de produção em Camaçari”, disparou, em evento de confraternização com jornalistas na última quinta-feira. Este ano, a Ford deve fechar 360 mil unidades vendidas.
O diretor comercial da Moura Baterias, Luiz Melo, comenta que a implantação de uma montadora melhora o desenvolvimento tecnológico do local onde o empreendimento se instala. “Isso ocorre porque uma empresa desse porte exige um nível educacional alto dos seus funcionários, criando também um grupo seleto de fornecedores de produtos e serviços que vão precisar de uma mão de obra especializada.” Esse tipo de empresa, segundo Melo, tem que investir muito na capacitação da mão de obra. “O nível tecnológico na população das cidades que têm uma montadora é muito maior que nas demais. Como exemplo, isso ocorreu em Camaçari, na Bahia, São José dos Pinhais, no Paraná, e em Gravataí, no Rio Grande do Sul, entre outras.
“Como o nome diz, uma montadora nunca se implanta sozinha. Ela vai precisar de empresas de alta tecnologia que vão se instalar no entorno para fornecer peças e serviços”, conta Melo. Ele argumentou que um empreendimento desse porte vai necessitar de melhorias na infraestrutura - principalmente para escoar a produção, como rodovias e portos -, telecomunicações, além de escolas técnicas para formar pessoal qualificado. Pensamento reforçado pela economista Tânia Bacelar. “O tamanho desse impacto depende do perfil do empreendimento”, diz. A cadeia automotiva agrega muito valor à economia. “Há dois anos, a Ford sozinha exportava o valor total de todas as exportações de Pernambuco”, citou Bacelar.
http://www.outroladodanoticia.com.br/component/content/article/2-noticias/3238-como-uma-montadora-muda-a-economia-de-um-estado.html